quarta-feira, 30 de maio de 2012

M - O Vampiro de Dusseldorf (M, 1931)


Vi esse filme pela primeira vez ontem e fiquei impressionado, tanto que já fiz esse post logo em seguida. Sou fã do expressionismo alemão desde que vi as primeiras cenas de O Gabinete do Dr. Caligari, ainda na aula de cinema. Pena que um dos efeitos colaterais (menores) da ascensão do nazismo e da II Guerra tenha sido o "congelamento" do cinema alemão de qualidade por muitas décadas. Talvez a própria estrutura do cinema atual, baseado nos Estados Unidos, pudesse ter sido diferente em outro caso.

Mas esse filme especificamente não se limita apenas à estética do expressionismo. Aliás, isso nem é uma coisa que se destaca tanto quanto em outros. O que me impressionou muito foi a densidade e a maturidade da história, tocando em temas que eu não imaginava que eram discutidos no cinema de 80 anos atrás. O filme conta a história de um serial killer de crianças que está aterrorizando a cidade de Dusseldorf, sem dar pistas para a polícia. Com o policiamento mais forte, os chefes do crime locais começam a ter problemas, e por isso, resolvem também perseguir o assassino. Roteiro até que comum hoje em dia, não? Imagine em 1931...

No ano da exibição de M, o cinema falado tinha apenas 4 anos (O Cantor de Jazz, de 1927, é o primeiro filme falado da história), sendo inclusive o primeiro filme falado de Fritz Lang. Já é de se admirar, portanto, a maturidade do filme em relação a seus diálogos e trilha sonora. Uma das partes geniais é justamente a alternância de momentos de silêncio absoluto dentro do filme, adicionando ainda mais suspense à história. Além de usar pela primeira vez a música como identificação de um personagem, já que o assassino é identificado por assoviar "In the Hall of The Mountain King".



Outro ponto alto é a atuação de Peter Lorre, de Casablanca, como o serial killer. Até então um ator de comédia, e também em seu primeiro filme falado, ele rouba a cena, especialmente no final do filme. Extremamente convincente no papel do assassino, em um tipo de atuação pouco comum na época, quando o mais comum eram as atuações melodramáticas ou rasas. Também serviu como referência por muitas décadas.


Mas na minha opinião o mais revolucionário para a época foi a história e o modo de contá-la. Serial killers não eram um assunto comum nos anos 30, e muito menos a discussão dentro do filme sobre o porquê de ele ser assim e até que ponto é culpado. Além disso, o visual "noir" e as tomadas de câmera inusitadas compõem muito bem o filme.

Uma das partes mais legais de se assistir um clássico é enxergar uma época diferente através de seus filmes, além de tentar vê-los soba ótica da sociedade dessa época. Já falei aqui sobre filmes que foram revoluções em suas épocas, e acho que esse é um caso. Apesar de ter sido proibido na Alemanha por décadas pelo regime nazista, e ter sido alterado ao longo dos anos, é muito fácil de ver o impacto que causou (e que poderia ter causado) na época. E acho que uma das coisas mais legais é ver algo muito diferente do que estamos acostumados. Essa é uma excelente oportunidade.

Nota: 8,0


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