segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Caça-Fantasmas (Ghostbusters, 2016)


Eu odeio remakes, em geral pouco criativos e caça-níqueis que capitalizam um filme original. Eu odiei o novo Karate Kid. Eu odiei o novo A Fantástica Fábrica de Chocolate. Eu odiei quando anunciaram esse remake de um dos filmes oitentistas que mais gosto. Eu odeio a Melissa McCarthy como comediante. Eu odiei os trailers que foram sendo divulgados. Eu absolutamente odiei a versão nova da música-tema, provavelmente uma das mais emblemáticas da história do cinema. Eu fui para o cinema pronto pra odiar o filme com mais propriedade, e dava tão pouco por ele que não me incomodei quando a filha pediu para ver a versão dublada.

Por isso digo com toda propriedade: como é bom de vez em quando estar completamente, inapelavelmente, irremediavelmente ERRADO.


Eu adorei a história, que ao mesmo tempo homenageia mas se descola da original. O básico está lá: cientistas sem muito crédito que se juntam para combater uma ameaça sobrenatural crescente que ameaça a cidade de Nova York. Mas a formação e evolução do time, a origem da ameaça, a trajetória do grupo obviamente mudaram para fazer mais sentido na transposição da década de 80 para o mundo de 30 anos depois. E mudaram com bastante coerência. A internet está lá, mas não tira o espaço dos velhos traços em mapas. As tecnologias são novas, mas as armas têm o mesmo jeitão. E mesmo que, assim como no original, você já saiba tudo que vai acontecer, torce, vibra e se diverte do mesmo jeito.

Eu adorei as referências. Em época de anos 80 em alta, com obras como Stranger Things, e em se tratando de algo tão cult como Caça-Fantasmas, seria fácil exagerar na mão nas referências ao filme original, engessando a história ou tornando-a algo sem sentido para a nova geração. As referências estão lá (o logo, o carro, o prédio, uma participação sensacional do monstro de marshmallow, entre muitos outros), mas nota-se uma deferência ao material antigo sem que isso se torne um problema. O fã antigo vai adorar, vai ficar procurando detalhes, mas a história corre sem parar para mostrar "olha aqui, lembra disso?" o tempo todo. Ponto para os roteiristas.


Eu adorei o elenco. Um dos pontos fortes do filme original era o equilíbrio entre os componentes da equipe, sem que um se destacasse muito mais que os demais (embora Bill Murray tivesse alguma profundidade em sua história, especialmente devido à personagem de Sigourney Weaver). Como eu disse ali em cima, não sou fã da Melissa McCarthy, e tinha medo de que as demais servissem apenas como escada para a "atriz principal". Não podia estar mais longe da verdade: todas têm seu espaço, mandam bem, e mesmo Melissa não me incomodou como faz em Mike and Molly, por exemplo. Destaque para Kate McKinnon, como a insana e extremamente produtiva Holtzmann, e Chris Hemsworth, claramente se divertindo no papel do tapadíssimo assistente Kevin.

Eu adorei as participações especiais. Sim, eles estão todos lá. Até Bill Murray (obviamente, com a sentida ausência do saudoso Harold Ramis). Cada um dos atores que fizeram os Caça-Fantasmas originais faz sua ponta nesse filme. Sigourney Weaver também. Até o Geléia (que, pasmem, tem papel importante na história também). Adorei o papel de Ernie Hudson, que rouba a cena por 30 segundos. Mais do que a importância dos papeis em si, o legal é a chancela de "vão lá, gente, bom trabalho, estamos aqui passando o bastão e desejando boa sorte". Ah, sim, tem Ozzy Osbourne também :-)



Eu adorei o filme, em resumo. Depois de toda a polêmica do elenco feminino (que não passa batida no filme, com algumas boas piadas muito bem colocadas lembrando que elas são mulheres e não estão nem aí para o que alguém pensa sobre isso. Aliás, o próprio Kevin, tão criticado, não deixa de ser uma sátira caricatural e muito bem sacada do papel da secretária burra e gostosa), fica fácil transformar esse remake em uma discussão sobre feminismo vs. machismo, ou sobre a necessidade do cinema de tentar mostrar novamente todas as suas boas histórias. Não caia nessa. O filme obviamente não é perfeito, as coisas acontecem muito fácil e nem sempre é fácil seguir a lógica da história. Mas tem sido tão difícil sentar no cinema e ter uma diversão honesta que esse Caça-Fantasmas vale muito a pena por isso. Foi ótimo ver minha filha sair empolgada com um sorriso enorme no rosto ao final da sessão. Assim como eu fiz, com a idade dela, no filme original. E é uma sensação fantástica.

Nota: 7,5/10