domingo, 14 de julho de 2013

Antes da Meia-Noite (Before Midnight, 2013)


Irônico que a primeira trilogia que eu completo nesse blog não seja O Poderoso Chefão, Star Wars ou De Volta para o Futuro. Mas fui hoje ver esse filme no cinema e precisava falar dele aqui. Meu texto sobre os dois filmes anteriores, Antes do Amanhecer e Antes do Pôr do Sol, está neste link. Para quem ainda não sabe, os três filmes, feitos em um intervalo de 18 anos, contam a história de Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), que no primeiro filme se conhecem por acaso em um trem, no segundo se reencontram e agora começam o filme finalmente juntos.

No entanto, não é necessariamente uma simples continuação da história de amor. Se o primeiro filme foi sobre idealismo e destino, o segundo sobre colocar os pés no chão, esse terceiro fala principalmente sobre o que acontece com o amor depois que o tempo passa. Aliás, apesar de ser o menos "romântico", ele deixa muito claro que estamos vendo uma história de quase 20 anos sobre o amor.


E pode não ser uma história bonita o tempo todo, mas certamente é verdadeira. Jesse e Celine, 9 anos depois, estão juntos, com filhas gêmeas de 7 anos, e passando férias na Grécia com a família e o filho mais velho dele. Claro que o estilo "os dois conversando o tempo todo" está lá, apenas um pouco diferente, e principalmente mais duro, já que o tom "o que nos reserva o futuro?" dos outros filmes agora se tornou "o que fizemos com nosso amor?".

Aí é que está a força do filme. A química entre os dois é fortíssima, e a conversa saudosa aos poucos se transforma em cansaço, dúvidas, ironia, ofensas. Os problemas da vida enfim chegaram para eles, e em dados momentos mal reconhecemos aqueles "amigos" que há tanto não víamos, e cuja história ultra-romântica já ficou para trás. Vemos, com pesar, suas discussões, e entendemos cada um deles, apesar de perceber onde cada um torna tudo mais difícil. Enxergamos que ainda há sentimentos, e isso nos dá ainda mais vontade de virar o rosto em alguns momentos para tentar não vê-los estragando esses sentimentos. Acreditamos que aquilo pode estar acontecendo, afinal aquilo acontece na vida também. Tememos pelo destino dos dois, afinal na vida real não há sempre o final feliz.


Mas, principalmente, nos vemos naquele casal. É como uma oportunidade rara de ver "de fora" nossas próprias incertezas, brigas, idiotices, bobagens, e de se indignar com um "por que ele foi falar isso?", mesmo sabendo que cada um de nós já "falou isso" na hora errada. É um exercício de auto-conhecimento até, pois nos identificamos com os personagens e com as situações e vemos o quanto estrago uma palavra mal dita, ou uma vontade sádica de agredir o outro em um momento de raiva pode provocar.

Quanto ao filme em si, não preciso dizer que é fabuloso, para mim o melhor dos três. Além de já conhecerem demais seus personagens, Hawke e Delpy também são roteiristas, o que traz ainda mais credibilidade à história. Os diálogos são inspiradíssimos, e como não poderia deixar de ser, há referências aos filmes anteriores, nas situações, na trilha sonora, na fotografia (e, incrivelmente, há referências sutis a filmes como O Exterminador do Futuro e De Volta para o Futuro). Mas sobretudo, há uma evolução, você vê aqueles personagens e não apenas se importa com eles, mas também acredita que a vida deles evoluiu desse jeito. Claro que não vou dizer o que acontece no fim, mas a trilogia se fecha (será?) trazendo muito mais profundidade e sentido aos filmes anteriores, e se configurando como um história de amor, não o amor idealizado, mas o real, desde seu nascimento, consolidação, até o que acontece depois do "felizes para sempre". E nos fazendo pensar em nossas próprias histórias.

Pensando bem, nada mau ter sido essa a primeira trilogia a ter sido fechada aqui no blog. Pois nada como uma grande história de amor. Talvez a melhor que o cinema tenha nos mostrado, por ser a história do nosso dia-a-dia, do amor que vivemos de verdade. Como ser mais que isso?

Nota: 8,5 (30o. colocado na minha lista de filmes favoritos)