quarta-feira, 30 de maio de 2012

M - O Vampiro de Dusseldorf (M, 1931)


Vi esse filme pela primeira vez ontem e fiquei impressionado, tanto que já fiz esse post logo em seguida. Sou fã do expressionismo alemão desde que vi as primeiras cenas de O Gabinete do Dr. Caligari, ainda na aula de cinema. Pena que um dos efeitos colaterais (menores) da ascensão do nazismo e da II Guerra tenha sido o "congelamento" do cinema alemão de qualidade por muitas décadas. Talvez a própria estrutura do cinema atual, baseado nos Estados Unidos, pudesse ter sido diferente em outro caso.

Mas esse filme especificamente não se limita apenas à estética do expressionismo. Aliás, isso nem é uma coisa que se destaca tanto quanto em outros. O que me impressionou muito foi a densidade e a maturidade da história, tocando em temas que eu não imaginava que eram discutidos no cinema de 80 anos atrás. O filme conta a história de um serial killer de crianças que está aterrorizando a cidade de Dusseldorf, sem dar pistas para a polícia. Com o policiamento mais forte, os chefes do crime locais começam a ter problemas, e por isso, resolvem também perseguir o assassino. Roteiro até que comum hoje em dia, não? Imagine em 1931...

No ano da exibição de M, o cinema falado tinha apenas 4 anos (O Cantor de Jazz, de 1927, é o primeiro filme falado da história), sendo inclusive o primeiro filme falado de Fritz Lang. Já é de se admirar, portanto, a maturidade do filme em relação a seus diálogos e trilha sonora. Uma das partes geniais é justamente a alternância de momentos de silêncio absoluto dentro do filme, adicionando ainda mais suspense à história. Além de usar pela primeira vez a música como identificação de um personagem, já que o assassino é identificado por assoviar "In the Hall of The Mountain King".



Outro ponto alto é a atuação de Peter Lorre, de Casablanca, como o serial killer. Até então um ator de comédia, e também em seu primeiro filme falado, ele rouba a cena, especialmente no final do filme. Extremamente convincente no papel do assassino, em um tipo de atuação pouco comum na época, quando o mais comum eram as atuações melodramáticas ou rasas. Também serviu como referência por muitas décadas.


Mas na minha opinião o mais revolucionário para a época foi a história e o modo de contá-la. Serial killers não eram um assunto comum nos anos 30, e muito menos a discussão dentro do filme sobre o porquê de ele ser assim e até que ponto é culpado. Além disso, o visual "noir" e as tomadas de câmera inusitadas compõem muito bem o filme.

Uma das partes mais legais de se assistir um clássico é enxergar uma época diferente através de seus filmes, além de tentar vê-los soba ótica da sociedade dessa época. Já falei aqui sobre filmes que foram revoluções em suas épocas, e acho que esse é um caso. Apesar de ter sido proibido na Alemanha por décadas pelo regime nazista, e ter sido alterado ao longo dos anos, é muito fácil de ver o impacto que causou (e que poderia ter causado) na época. E acho que uma das coisas mais legais é ver algo muito diferente do que estamos acostumados. Essa é uma excelente oportunidade.

Nota: 8,0


terça-feira, 29 de maio de 2012

A Fantástica Fábrica de Chocolate (Willy Wonka and the Chocolate Factory, 1971)


Dizem que é um filme infantil. Até deve ser mesmo. Mas é um filme infantil bem tenso, onde a máxima "obedeça, senão...." é levada às últimas consequências. Mas, independente de qualquer coisa, é um filme muito legal.

Pra quem não conhece, a história é sobre o recluso dono da melhor fábrica de chocolates do mundo, que lança um concurso em que as 5 pessoas que encontrarem os tickets dourados em seus chocolates ganham o direito a uma visita em sua misteriosa e revolucionária fábrica. Charlie é um menino muito pobre que, contra todas as chances, é um dos sorteados, e parte para a visita que mudará sua vida.

Podia ser essa a sinopse de um filme bobinho e de fato bastante infantil. Mas não é o que acontece. Primeiro porque, afinal, eram os anos 70, e nada era bobinho nos anos 70... a representação da fábrica, seu espaço, suas "máquinas", seus empregados, seus produtos, tudo, é visualmente muito impactante, bastante colorida e psicodélica. Cachoeiras de chocolate, túneis, e todo tipo de ambiente bizarro aparece no filme, o que para as crianças é muito legal de assistir. Destaque também para os "oompa-loompas", os anões laranjas cantores que são a mão de obra da fábrica.


Também com foco nas crianças, mas de uma maneira mais "agressiva", são as coisas que vão acontecendo com os vencedores ao longo do filme. Tirando Charlie, são todas crianças mimadas e malcriadas, que um a um sofrem instantaneamente algum problema (ou castigo) quando fazem algo "proibido" pelo dono da fábrica. Mais exemplar impossível. Aliás, Willy Wonka (Gene Wilder) é um destaque à parte. Sua imersão no papel é notável, e seu desempenho como o "lunático" empreendedor é muito bom, "sendo" o personagem durante todo o filme.

Nem lembro a primeira vez que vi esse filme. Sei que já vi várias vezes, e que foi o primeiro filme que a Manu (minha filhinha) de fato parou para prestar atenção. Tanto que o DVD já está todo riscado, porque ela quer colocar sozinha no aparelho. Sinal que atrai as crianças. Sem querer ser saudosista ou anti-politicamente correto (coisas que eu de fato sou), é um filme diferente do que se faz hoje. Nem é o caso de dizer "olha, isso nunca passaria em um filme atual", até porque existe um filme atual (com Johnny Depp), mas ainda assim é diferente. Por sinal, por curiosidade resolvi assistir a refilmagem um dia desses na TV, e não consegui assistir muito tempo. Além do estranhamento da versão nova, em contraste com a que vi a vida toda, a atuação de Johnny Depp é tão afetada e artificial que o filme perde a graça. Acho ele um excelente ator, mas perdeu a mão.

Em resumo, um musical-infantil-drama-comédia muito legal. Outro que não é uma obra prima, mas que marcou muitas pessoas via Sessão da Tarde. E um dos poucos filmes até hoje que só vi dublado. Para a criança (e o adulto) dentro de cada um.

Nota: 8,0

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love The Bomb, 1964)

Acho que já estava na hora de falar de outro filme clássico, então escolhi esse que para mim é um dos melhores de todos os tempos: uma mistura de filme de guerra, drama e comédia que na minha opinião é o ponto alto da carreira do fantástico comediante Peter Sellers. Ele faz 3 papéis no filme: o presidente americano, um militar inglês e o cientista alemão que dá nome ao filme, um remanescente do nazismo que virou consultor nos EUA.

A história se passa no auge da Guerra Fria entre EUA e URSS. Por uma paranoia pessoal, um comandante militar americano ordena um ataque nuclear à URSS, e por conta de todas as proteções anti-espionagem, aparentemente ninguém consegue cancelar o ataque. Para piorar, a URSS acabou de ativar o "artefato do fim do mundo", um conjunto de mísseis disparado automaticamente caso os soviéticos sofram um ataque, e que também não pode ser cancelado. Com isso, americanos e russos se juntam para tentar evitar o fim do mundo.

Poderia ser o roteiro de um filme tenso de guerra. E de fato existem filmes mais "sérios" com essa premissa (me lembro de Fail Safe, um filme com George Clooney, que foi apresentado ao vivo na TV americana uns anos atrás). Mas não é o caso de Dr. Fantástico. Apesar de alguns momentos mais sérios, o filme é todo em tom de sátira, e para mim é de longe o melhor filme do Kubrick, que inclusive dirigiu parte dos atores fazendo-os acreditar que o filme era sério.

Mas o filme é de Peter Sellers. Um excelente comediante, especialista em construir tipos, como o Inspetor Clouseau de A Pantera Cor de Rosa, aqui desempenha 3 papeis de maneira impressionante, como se fossem de fato 3 atores diferentes. Chega inclusive a "contracenar" consigo mesmo. Claro que "gênios" da sétima arte como Eddie Murphy e Adam Sandler já fizeram isso também, mas sem 1% da maestria de Sellers. Chega a ser uma blasfêmia compará-los.

Já disse em algum momento, acho que a comédia e a sátira são excelentes maneiras de revisitar a história. Nesse caso, é simplesmente genial, juntando um diretor perfeccionista, um ator excelente e um roteiro inspirado. Não sei se todos já viram o filme, mas sugiro fortemente. Uma aula de atuação em um filme fantástico.

Nota: 8,6 (28o colocado na minha lista de filmes favoritos)

terça-feira, 22 de maio de 2012

Os 12 Macacos (Twelve Monkeys, 1995)

Outro sub-gênero de filmes que eu adoro é o de viagens no tempo. Já falei aqui sobre Meia Noite em Paris, que apesar de, de certa maneira, ter viagens no tempo, não é na minha opinião um filme SOBRE o tema, e de O Exterminador do Futuro 2, esse sim um filme mais clássico de alguém viajando no tempo para evitar que algo aconteça.

Já esse Os 12 Macacos é um filme excepcional, que aborda esse tema de passado e futuro, mas vai além, não apenas na história, um suspense a princípio meio confuso e recortado, mas que aos poucos vai se tornando extremamente cativante, mas também em toda a ambientação do filme, tanto no futuro quanto no presente. O diretor é o ex-Monty Python Terry Gilliam, e seu toque um tanto surreal é visto em todo o filme, especialmente no futuro distópico onde a humanidade foi forçada a se mudar para os subterrâneos depois que um vírus mortal dizimou 99% das pessoas.

Cole (o personagem de Bruce Willis, ótimo) é um prisioneiro nesse futuro, que concorda (um pouco contra a vontade) de participar de experimentos de viagem ao passado (com o toque genial de que nem sempre elas funcionam muito bem, ou seja, não há certeza de volta e nem precisão no destino), para tentar localizar uma amostra deste vírus antes de suas mutações, para que seja buscada uma cura que permita aos humanos voltarem à superfície, uma vez que o passado não pode ser alterado, e portanto a epidemia não pode ser evitada.

Na sua viagem ao passado (os dias atuais), Cole é dado como louco, e portanto internado. Lá conhece a psiquiatra Kathryn (Madeleine Stowe, para mim uma atriz subvalorizada, e que sumiu), e Jeffrey (Brad Pitt), um louco que chefia um grupo de anarquistas chamado O Exército dos 12 Macacos, suspeitos pelos cientistas do futuro de serem os responsáveis pelo "outbreak" do vírus. A história se complica bastante, e o final é sensacional, mas além disso a fotografia e o visual do filme são muito bons também. As atuações são ótimas, com destaque de longe para Brad Pitt que, acredito eu, começou a mostrar nesse filme que de fato é um bom ator e não apenas o queridinho das mulheres, chegando a ganhar um Globo de Ouro por seu papel nesse filme.


Interessante notar como os filmes de viagem no tempo podem ser divididos em 2 tipos: aqueles em que o passado pode ser mudado (como De Volta para o Futuro) e os que consideram a história passada imutável (como esse). Em geral,  acabam sendo filmes mais sombrios, em que a noção de destino e de inevitabilidade da vida estão mais presentes. Não sei dizer se tenho um tipo favorito entre os dois, ambas as correntes têm filmes muito bons. Eventualmente falarei mais sobre eles por aqui. Por enquanto vai a indicação de um filme excelente, que até quem não é fã de ficção geralmente gosta.

Nota: 9,25 (10o na minha lista de filmes favoritos)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Bob Esponja - O Filme (The SpongeBob Squarepants Movie, 2004)

Um amigo me fez perceber uma coisa que não havia me dado conta: eu não falei sobre nenhuma animação até agora. Provavelmente não era bem isso que ele tinha em mente quando fez a sugestão, mas vou falar desse que é um dos meus favoritos no gênero: Bob Esponja - O Filme. Curiosamente, logo depois do primeiro post 18+ do blog...


Recentemente, em especial após o desenvolvimento de técnicas de animação diferentes do desenho animado puro (ou seja, a partir de Toy Story, em 1995), filmes de animação mais voltados para um público "adulto" têm se tornado mais comuns. A isso se junta a tendência recente da adolescência durar até os 40 anos, e surge todo um novo mercado para um gênero até então exclusivamente infantil. Desde séries como Os Simpsons, Beavis & Butt-Head e Family Guy, até filmes como Toy Story, Shrek, e outros, que, se não são exclusivamente adultos, contêm referências adultas suficientes para não entediar o adulto que leva a criança ao cinema, e sem que a criança deixe de gostar do filme.

No entanto, tenho cá minhas dúvidas se Bob Esponja se enquadra nessa categoria, ou se foi só meu lado criança que falou mais alto quando adorei o filme. Desde a ida ao cinema (quando a Manu não era nascida ainda, e eu e a Chris éramos os únicos que não estavam ali acompanhando uma criança) até a reação das pessoas quando ouvem falar do filme (e portanto, a reação de vocês que estão lendo, e das pessoas que desistiram no título), tudo pode levar à conclusão que de fato esse é um desenho infantil "old-school" e que este que vos fala tem a idade mental de 8 anos.

Sim e não (devo ter uns 10 anos, vai). A história é, de certa forma, infantil, mas há componentes de sobra para os adultos que deixam seu preconceito de fora do cinema para se divertirem. Desde o mote do filme (ele querendo provar que não é mais uma criança), passando por algumas piadas muito bem sacadas, e principalmente as referências (falo delas mais adiante) passam batidas pelas crianças e atingem em cheio os adultos. Sem falar que a parte infantil também é muito divertida (quem não deu suas risadas que atire o primeiro disco de "Eu Sou um Amendobobo").

A história segue a estrutura "non-sense" dos episódios da TV (sim, eu assisto): um plano do arquivilão Plankton (uma alga microscópica) faz com que o chefe de Bob Esponja, Sr. Siriguejo, seja acusado do roubo da coroa do Rei Netuno. Bob Esponja e seu amigo retardado Patrick vão então em busca do artefato no mundo fora do mar.

Como eu disse antes, o que eu mais adoro são as referências. "Road movies", momentos românticos, de ação, musicais, todos vão se desenrolando ao longo do filme. Mas minhas duas preferidas estão no final: a participação totalmente absurda de David Hasselhoff (SOS Malibu), que ninguém com menos de 30 anos sabe quem é, e principalmente o número musical final, com nada menos que uma música do Twisted Sister (I Wanna Rock). Eu, que adoro a banda, vibrei absurdamente...

É isso, sem mais o que dizer. Como já disse várias vezes, cinema às vezes é só diversão. E eu me divirto toda vez que vejo esse filme. Com a diferença que, agora, eu digo que é a Manu que está assistindo...

Nota: 8,0


terça-feira, 15 de maio de 2012

[18+] Os Sete Gatinhos (1980)

Existe aquela categoria de filmes que são tão ruins, mas tão ruins, que chegam a ficar bons. Alguns de propósito (em geral, os filmes "trash" como Evil Dead, Plan 9 from Outer Space), e alguns involuntariamente (filmes como Rambo ou Independence Day, na minha modesta opinião). Não sei se consigo encaixar esse filme em alguma das categorias, mas torço bastante para que o diretor Neville de Almeida e os atores soubessem o nível de tosqueira do que estavam fazendo, e se divertissem com isso.

Aliás, toda essa fase da pornochanchada brasileira é um capítulo à parte na história do cinema nacional. Não sei se é o caso aqui de discorrer sobre o momento político da época, e sobre a natureza contestadora/escapista (sim, as 2 coisas) do cinema desse período, já que eu acho mais divertido falar sobre as bizarrices de filmes como esse e outros do mesmo "quilate" (e o blog é meu, oras).

Começando pela (peculiar) história do filme, por sinal uma adaptação de Nelson Rodrigues: Silene, a filha mais nova de uma família de classe média baixa (o pai é contínuo, como faz questão de lembrar várias vezes durante o filme), estuda em um internato e é a esperança do pai de que uma de suas 5 filhas possa ser alguém na vida (entenda-se: casar virgem com um homem mais rico). A ponto das demais filhas se prostituírem para pagar o estudo da mais nova. No entanto, ela é expulsa do internato por incompreensivelmente ter matado uma gata que dera à luz a sete gatinhos, e tem que voltar para casa. A partir daí, se revela toda a disfuncionalidade da família (especialidade de Nelson Rodrigues, afinal).

Nas mãos de um diretor iraniano, por exemplo, essa sinopse viraria um dramalhão existencial daqueles (e não saberíamos o que acontece no final). Ainda bem que isso não aconteceu, já que, mesmo com uma história sem pé nem cabeça e algumas situações incompreensíveis, o filme é muito divertido, especialmente se você entra no espírito. O pai, Noronha (interpretado por Lima Duarte, que parece que já nasceu com uns 60 anos, aliás), desfere, logo no início do filme, a frase que talvez seja a maior pérola do cinema nacional em todos os tempos (desculpe, Tropa de Elite, mas é verdade): "Eu quero saber quem foi que desenhou caralhinhos voadores na parede do banheiro".
As filhas também são um caso à parte. Basta dizer que uma delas é a Regina Casé (que protagoniza outra cena clássica, correndo pelada em volta da piscina de um deputado sob a perseguição dele). Outros personagens clássicos do cinema brasileiro, como a velha carente, o velho tarado, o cafajeste, o político ladrão, estão todos lá, mesmo que sem fazer muito sentido pra história.

Atores como Ary Fontoura e Antonio Fagundes também estão no filme, em personagens completamente diferentes dos que as gerações atuais se acostumaram a vê-los. Aliás, essa é uma característica curiosa dos filmes da época: como não havia muita opção de trabalho para os atores "famosos" (leia-se, os atores das novelas da Globo), era comum vê-los em filmes de baixíssimo orçamento e gosto bastante duvidoso como esse. Até música do Roberto Carlos na trilha sonora tem, vejam vocês.

Os Sete Gatinhos talvez seja apenas um dos mais conhecidos, senão o mais conhecido, representante do período, representado por filmes muito toscos com títulos impagáveis (pérolas como Bonitinha Mas Ordinária, Cada Um Dá o Que Tem, Rio Babilônia, Como É Boa Nossa Empregada e assim por diante). Com o fim da censura e consequente abertura social e até comercial, esses filmes foram sumindo, mas graças à internet estão novamente disponíveis (desconheço lançamentos em DVD - por exemplo, assisti a Os Sete Gatinhos baixado da internet).

Depois disso veio o "novo cinema brasileiro", com filmes bons como Central do Brasil e Cidade de Deus, e abrindo espaço para o chatíssimo sub-gênero "favela movie", mas aí é assunto para outro post. Por ora, vale a lembrança do cinema brasileiro moleque, de raiz... :-)

Nota: 6,0

sábado, 12 de maio de 2012

Um Dia de Fúria (Falling Down, 1993)

Bom, ando falando muito dos meus Top 50, então queria voltar aos filmes "comuns". Sei lá porque lembrei desse, nem tenho em DVD, e deve fazer uns 10 anos, pra mais, que não assisto. Isso deve dizer alguma coisa sobre o meu humor ultimamente... :-)

Por alguma razão, esse filme ficou marcado, apesar de não ter tido um grande destaque. Acho que todo mundo já deve ter assistido em algum Supercine da vida: em um momento de stress um homem querendo ir encontrar sua filha abandona o carro e tenta ir a pé, encontrando situações que só fazem com que sua raiva aumente. O que era um momento de insanidade se transforma em algo muito mais grave, quando um policial prestes a se aposentar resolve descobrir o que está acontecendo.

O que sei é que quase todo mundo já teve o seu "Dia de Fúria"... Aliás, meu primeiro destaque é para o título em português, um dos poucos que provavelmente é melhor do que em inglês, caracterizando exatamente o que acontece com o protagonista. Acho que é por isso que esse filme ficou tão marcado, todo mundo já teve vontade de fazer exatamente o que ele fez.

Michael Douglas está muito bem, passando em cada cena o desespero crescente do sujeito. Robert Duvall é o tradicional clichê do policial quase aposentado, que mesmo já não tendo mais porque, resolve investigar essa série de pequenos crimes aparentemente desconexos.

Mas o principal destaque do filme são as situações. Parece que de fato, em um dia ruim, qualquer um de nós poderia, no limite, ter a mesma reação dele. A cena do McDonald´s é clássica: primeiro ele chega pedindo o café da manhã às 11:05 e a balconista diz que só pode servir até as 11:00. Depois de alguma briga, ele então pede um sanduíche, e ao comparar o que recebeu com a foto "meramente ilustrativa", acaba destruindo o restaurante. Exagero? Sim. Mas quem nunca teve vontade?


Da mesma maneira, ele reage contra assaltantes, imigrantes ilegais, neonazistas, o trânsito, e basicamente tudo que passa à sua frente.  Claro que a história não acaba bem, mas o importante destacar aqui é o quanto compreendemos o personagem em sua angústia, e de certa maneira até justificamos suas reações, chegando até a "torcer" por ele.

Afinal, quem nunca teve um dia de fúria?

Nota: 7,0

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Os Vingadores (The Avengers, 2012)

É a primeira vez que posto aqui sobre um filme que acabei de assistir, então provavelmente esse deve ser um post um pouco diferente, mais "no calor do momento", do que os demais, que se referem a filmes que já assisti há alguns anos, e portanto já tenho uma opinião mais sedimentada. Vamos ver no que dá.

Isso posto, vamos lá: primeiro, gostei do filme. Provavelmente não tanto quanto os fãs de quadrinhos de de filmes de super-heróis em geral, e provavelmente mais do que o espectador médio de cinema (mais do que a Chris, com certeza eu gostei. Já vi que vou ter que pagar essa ida com uns 2 iranianos e um Almodóvar...). Não é meu filme de heróis preferido, nem de longe, mas tem suas qualidades e é bem divertido.



O cinema, obviamente, é uma mídia muito diferente das histórias em quadrinhos, e mesmo da animação. Por serem imagens e não desenhos, acho que instintivamente esperamos algo mais real, e nem tudo o que funciona em quadrinhos vai funcionar no cinema. Assim, a meu ver, um filme de heróis pode funcionar de 2 jeitos:

- Tentando ser ultrarealista: os filmes do Batman do Christopher Nolan são o exemplo clássico, facilitado pelo fato de que o Batman é um herói mais realista, que não tem superpoderes vindo do nada, e portanto se tornando muito mais "acreditável".

- Estabelecendo um universo onde aquelas coisas podem acontecer: é o caso de Os Vingadores. Não existe uma maneira realista de introduzir um personagem que fica indestrutível devido à exposição a raios gama, ou outro que é basicamente um semi-deus vindo de outra galáxia. Nesse caso, o filme em geral é tão melhor quanto mais conseguir convencer sua audiência da credibilidade desse universo.

O filme consegue bem esse objetivo. Com alguns poucos deslizes (como o começo meio arrastado), detalhes como a dificuldade de entendimento entre os herois e as diferenças de opinião entre eles (o sarcasmo do Homem de Ferro vs. o patriotismo do Capitão América, por exemplo) são bem introduzidos, inclusive desempenhando papel importante no enredo. O humor também é bem diferente do usual, quebrando os momentos de tensão e escalando até a impagável cena de luta entre o vilão Loki e o Hulk (que passa quase o filme todo sendo tratado com medo por todos, como uma força incontrolável, e a partir de um certo momento vira alívio cômico. Estranho).

As cenas de ação, claro, são muito bem feitas. Assisti ao filme em 3D e não me arrependi, chegando a "desviar" das flechas do Gavião Arqueiro em alguns momentos. O ritmo, especialmente na meia hora final, é frenético, mas sem aquela tontura de filmes que exageram na ação. Outro ponto positivo é o equilíbrio entre os personagens, sem que os mais "estrelas", como Homem de Ferro e Hulk, ganhem destaque excessivo.

As atuações são legais, dado o tipo de filme. Robert Downey Jr. nasceu para ser o Tony Stark (outro da escola Jack Nicholson de atuação - faça o papel de você mesmo. Aliás, assim como Samuel L. Jackson, que sempre faz o papel de Samuel L. Jackson, e sempre manda bem), Mark Ruffalo também consegue passar bem a aflição de um homem que sabe o perigo que é. Os demais estão ok, com destaque para Tom Hiddleston, muito bem como Loki, e para Scarlett Johansson, porque afinal ela sempre é o destaque onde quer que esteja.

Que atuação!
Não assisti à maioria dos "filmes que deram origem à série. Assisti ao primeiro Homem de Ferro, e gostei bastante, mas Thor, Capitão América, Hulk não. Portanto, acho muito legal a iniciativa da Marvel de juntar todas essas histórias e dar um direcionamento a elas em Os Vingadores, mas não posso falar sobre isso. Analisando esse filme isoladamente, é um filme interessante e divertido, que consegue passar uma certa credibilidade, mas não como O Cavaleiro das Trevas, que para mim rompeu a barreira e pode ser considerado um excelente filme, e não um "excelente filme de super-herói". Mas, claro, vale o ingresso, e obviamente a série não vai parar por aqui.

É isso, em resumo gostei do filme e sugiro fortemente, especialmente se você é fã do gênero. Tentei falar menos sobre a história dessa vez, já que muitos não devem ter visto ainda. Digam aqui embaixo o que acharam...

Nota: 7,5

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Star Wars (1977)

Eu ia deixar para queimar esse cartucho mais para frente, mas ouvi tanto falar de Star Wars hoje na internet que não teve como. Alguém inventou que hoje é "Star Wars Day", tudo por causa de um trocadilho da data de hoje (em inglês) com a frase mais famosa do filme: "May the 4th be with you" (pegou? pegou?) e a coisa se espalhou. Bom, que seja então. Não é como se fosse um enorme sacrifício falar desse filme. E ainda tem as continuações para render um pouco (se até o George Lucas faz isso, por que esse blog não pode?).

Confesso que a primeira vez que assisti Star Wars eu já era um pouco mais velho (apesar de ter nascido no ano de lançamento do primeiro filme - sim, primeiro, porque essa história de IV só veio depois e eu ainda acho que os filmes têm que ser vistos na ordem de lançamento e não na ordem cronológica da história). Um grande amigo de faculdade, o Flávio (ele sim um fanático pela saga, que já viu cada filme umas 50 vezes) me emprestou o VHS onde ele tinha gravado os 3 filmes quando passaram na Globo (século passado, amigos...).
Nesse caso, ter assistido tarde ao filme não diminuiu seu impacto, e 2 dos filmes estão entre os meus Top 20.

Falar sobre o filme em si seria redundância. Mesmo que não viu ou não gosta tem uma boa ideia do que se trata a história, e conhece os principais ícones da série, que já estão inseridos na cultura pop (a figura de Darth Vader, a frase "A long time ago, in a galaxy far, far away...", etc). O legal de discutir (e o que não sei se de fato alguém já entendeu de verdade) é como uma história interessante, bem filmada, com diretor e atores quase desconhecidos e orçamento limitado virou um sucesso de bilhões de dólares e transformou George Lucas em um poço de dinheiro ao ser o primeiro a apostar numa coisa até então desconhecida chamada merchandising.

A discussão passa na verdade por uma maior: qual o segredo de um filme bem sucedido? Como filmes descompromissados como Evil Dead e A Bruxa de Blair custam alguns milhares de dólares e são sucessos mundiais enquanto filmes de orçamentos milionários, atores famosos, diretores consagrados, naufragam miseravelmente? (como Pluto Nash, de Eddie Murphy, que custou US$ 100 milhões e faturou... US$ 4,4 milhões)

Claro que eu não sei a resposta. Dá pra imaginar que uma boa história, original e bem contada, ajude bastante. E isso Star Wars tem. O próprio George Lucas admite que nada ali é novo, tendo influências de faroeste, filmes de samurai e outros. Além disso, reconhecem-se muito facilmente os tais "arquétipos", o mocinho que não conhece sua origem, a mocinha destemida, o vilão absolutamente mau que esconde um segredo...
Luke, I´m your cousin.
Mas isso muitos filmes têm. Acho que o principal é a mudança, o ineditismo. Na década de 70, a ficção científica tinha um status obscuro, e os filmes eram "limpinhos" e carregados de filosofia e questionamentos sobre o futuro (até então, o mais famoso era 2001). Ter conseguido filmar uma ficção "pop" e que atingisse a todos foi o grande trunfo de George Lucas (assinar um contrato garantindo todo o lucro de merchandising também...). Ele, que nunca foi um grande diretor (tanto que o melhor filme da saga não foi dirigido por ele), acertou em cheio ao entender a geração em que estava e entregar o que eles esperavam. Grande mérito.

Enfim, não dá pra ignorar um fenômeno de massa como esse. O melhor então é se divertir com ele. Não espere um filme que vá mudar sua vida, nem dar lições de moral. Relaxe e divirta-se. Melhor do que entender o sucesso de um filme e assisti-lo e discutir suas opiniões. Aproveite o "Star Wars Day" e veja ou reveja um grande filme. Você não vai se arrepender (ou vai, mas faz parte).

E que a Força esteja com vocês... sempre! :-)

Nota: 9,0 (17o. na minha lista de filmes favoritos)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

500 Dias com Ela (500 Days of Summer, 2009)

Eu sempre digo que esse filme é o que todas as comédias românticas queriam ser e não conseguiram. Apesar da clássica forma "boy meets girl", o filme não "idealiza" o romance e a busca do amor perfeito, e sim mostra um relacionamento como muitos outros são, com altos e baixos, desentendimentos, reconciliações, e, afinal, duas pessoas tentando se entender e conviver.

Tom é um arquiteto buscando se estabelecer na carreira, trabalhando em uma empresa que cria cartões (de aniversário, Natal, namoro). Conhece uma garota chamada Summer, e depois de pouco mais de um ano, quando ela o abandona, ele busca entender o porquê enquanto tenta reconquistá-la. Historinha batida, não? Pois algumas coisas, como eu disse, fazem com que esse filme seja diferente dos demais.

A maneira de contar a história, de maneira não linear, alternando o começo florido com as piores etapas do namoro, não apenas nos ajuda a entender melhor o que se passou, como também mantém o interesse ao longo do filme. Além disso, foge da sequência "encontro-namoro-briga-reconciliação" que caracteriza 99% das comédias românticas. O emprego do protagonista na empresa de cartões é uma maneira muito esperta de mostrar suas flutuações de humor devido ao namoro, gerando cenas hilárias.

As atuações também são ótimas. Joseph Gordon-Levitt, que surgiu, quem diria, na série 3rd Rock From the Sun, vai amadurecendo como ator nesse papel, tendência que continua em Inception (e, esperamos, no terceiro filme do Batman, The Dark Knight Rises). E Zooey Deschanel, bem... é Zooey Deschanel, a maior "girl next door" do cinema depois de Meg Ryan. Ela está tão linda no filme que você até perdoa quando ela faz o rapaz de gato e sapato. Ah, e é boa atriz também.
E as situações que ocorrem com eles são o ponto forte do filme. Ao contrário de alguns "romances", você acredita que aquilo ali poderia de fato estar acontecendo. E o visual do filme também é belíssimo, aproveitando o fato de Tom ser arquiteto para transformar a cidade em um personagem do filme. Além de algumas cenas inusitadas, que ajudam a criar uma história muito diferente:
Por falar nisso, a trilha sonora também é bem interessante, misturando músicas conhecidas com algumas da banda da própria Zooey Deschanel.

O filme perfeito? Claro que não. Continua sendo um pouco previsível apesar das novidades, e em alguns momentos tenta ser um pouco "indie" demais (o que eu chamo de "efeito Juno", aquele filme que se sentia na obrigação de ser alternativo a cada segundo de história). Mas é muito divertido, e ao mesmo tempo foge do convencional, não tratando o espectador como idiota. E isso é mais do que se pode dizer de muitos filmes hoje em dia....

Nota: 8,8 (23o. na minha lista de filmes favoritos)