quinta-feira, 8 de março de 2012

Persona (1966)

Queria falar aqui um pouquinho sobre o "cinema de roteiro" x "cinema de arte". Escolhi esse filme do Ingmar Bergman porque o assisti antes de ontem (na segunda ou terceira tentativa, confesso. O sono me atacou algumas vezes). Mas poderia (e pretendo) falar sobre Cidade dos Sonhos, 2001, qualquer um do Terence Malick, Pi e A Fonte da Vida, do Darren Aronosfky, ou de muitos outros.

Primeiro, o filme: uma atriz tem um colapso nervoso e para de (ou se recusa a) falar. Uma enfermeira é contratada para cuidar dela e juntas vão passar uma temporada em um local remoto. Aos poucos, a convivência entre as duas (apesar da mudez de uma delas) começa a se intensificar, até que as próprias vidas das duas se confundem.

Já disse algumas vezes nessa curta vida do blog o quanto para mim é importante o roteiro no cinema, e que considero o próprio cinema essencialmente como uma ferramenta para contar histórias. Mas (ainda bem) nem todos pensam como eu. Um dos exemplos são os chamados "filmes de arte", onde a tela é utilizada não com o propósito principal de contar uma história (embora ela esteja lá), mas como uma ferramenta de manifestação artística. Você não espera que um quadro, uma escultura, ou mesmo uma música necessariamente conte uma história, é justo que o cinema tenha essa liberdade também. E assim, criam-se experiências diversas, onde o começo, meio e fim não são os mais importantes, e sim a contemplação e até mesmo o questionamento e a liberdade de cada um entender (ou não entender) o que achar melhor.

No entanto, claramente, o cinema de arte não é para todos. Para mim, três razões são as principais para que os "filmes-cabeça" gerem tanta rejeição:

- Vivemos em uma era mais comercial e "prática", onde as pessoas em geral não querem ter que juntar as peças ou criar juízo de valor por si próprias - isso afeta não apenas o cinema artístico, mas também os roteiros mais elaborados ou mais abertos

- Considera-se (especialmente entre os críticos de cinema "mais consagrados") que mostrar gosto pelos filmes "mais difíceis" denota um maior conhecimento de cinema ou uma maior profundidade do que os filmes "normais" ou 'comerciais". O crítico se sente compelido a dizer que odiou Star Wars e que A Árvore da Vida é o filme mais sublime do mundo (sem juízo de valor aqui sobre se isso é verdade ou não). Isso cria expectativas, soa pedante e causa uma repulsa natural pelos filmes "pedantes"

- Em última análise, ninguém gosta de ser chamado de burro - entrar no cinema, ficar 2 horas e sair sem entender nada não é uma experiência agradável para muitos, vamos ser sinceros

Eu já fui bastante talibã contra os "filmes cult", odiava mesmo. Ainda não consigo adorar a maioria (A Fonte da Vida é uma exceção, O Sétimo Selo outra), mas acho que deixei de achar que não prestam por definição. Acho que tenho a agradecer à Chris (embora ainda não goste dos filmes iranianos), a alguns amigos (Samuel, por exemplo) e também ao curso de História do Cinema que cheguei a fazer em SP uns anos atrás, que me mostrou acima de tudo que limitar suas experiências é também limitar o que se pode conhecer. Assim, já me disponho a  encarar filmes "fora da zona de conforto", assim como esse Persona, do qual já tinha ouvido falar e é de um diretor consagradíssimo.



Odiei. Mas valeu a tentativa. Gostei de uma ou outra mensagem, cena, mas ainda prefiro histórias com pé e cabeça :-P

Mas já considero uma vitória ter visto. E pretendo continuar dando chances aos filmes cult de vez em quando...

Nota: 4,0

4 comentários:

  1. Eu fiz um curso no MIS sobre Filosofia e Cinema, com o Luiz Felipe Pondé, e desde então passei a gostar mais desses filmes de arte, que o Almir adora... Mas tem alguns que realmente não dá! No curso uma das aulas era sobre o Kieslowski e o prof. recomendou assistir a série Decálogo - é boa demais!!! Peguei na 2001 - vem uma caixa com os 10 episódios de 1 hora cada. Não deixe de ver e me conte o que achou... bjs

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    1. Eu já vi pra vender essa caixa, mas era importada na Livraria Cultura, não tinha condição de comprar... hehehe.. tenho curiosidade de ver os filmes, ainda chego lá. Mas prometo que resumo todos em um post só, dez posts sobre Kieslowski já é demais... :-)

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    2. Assista ao Decálogo antes de dizer isso... e depois a trilogia das cores.

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    3. Da Trilogia das Cores assisti um só, e nem foi o Azul que é o mais famoso. Assisti o Branco. Bem lembrado, vou voltar a colocar na fila de pendências...

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