terça-feira, 10 de abril de 2012

Amnésia (Memento, 2000)

Quando falo sobre roteiros geniais e sobre como uma solução inovadora de roteiro pode tornar um filme inesquecível, geralmente é nesse filme que estou pensando. Nada menos que sensacional a maneira como esta história é contada, no filme que projetou Christopher Nolan (que dirigiu Batman Begins, O Cavaleiro das Trevas, O Grande Truque e A Origem, entre outros, e aqui, além de diretor, é roteirista, junto com seu irmão Jonathan Nolan), um dos meus diretores modernos favoritos.

A história acho que já é conhecida: um corretor de seguros sofre um assalto, onde sua mulher é morta e ele leva um tiro na cabeça. Por causa disso, perde a capacidade de formar novas memórias, esquecendo de qualquer informação nova em poucos segundos. Ainda assim, com o auxílio de fotos, tatuagens e amigos (ou não), estabelece como objetivo de sua vida encontrar o assassino.

Até aí, uma história inteligente, porém de certo modo comum. O que torna esse filme único é a maneira como esta história é contada. Para colocar o espectador na posição do protagonista, tudo o que vemos são cenas curtas, de poucos segundos, onde por exemplo, ele está correndo mas se esqueceu se está perseguindo alguém ou sendo perseguido. E estas cenas vão se sucedendo em ordem inversa, ou seja, na cena seguinte voltamos um pouco no tempo para ver o que aconteceu antes. E assim, aos poucos vamos entendendo o que de fato está acontecendo, e impressões que tínhamos vão se confirmando ou destruindo. Explicado assim, parece confuso. Não é, é espetacular.



Além disso, alternam-se também cenas de flashback, onde a vida de Leonard pré-assalto são mostradas, nos permitindo perceber que mesmo as lembranças antigas, supostamente infalíveis, talvez não sejam exatamente o que parecem.

Não sei se tenho muito mais o que falar. Quando vi esse filme no cinema, a impressão que dava quando saí era que a vida real de fato estava se passando de trás para frente :-) Fiquei dias digerindo o que tinha visto, e já assisti o filme algumas vezes depois (inclusive utilizando uma feature do DVD, que permite que ele seja visto na ordem cronológica - o que obviamente estraga o filme), e toda vez ele se supera, eu percebo um detalhe a mais que não tinha visto, ou alguma interpretação diferente salta aos olhos. Trabalho de gênio, desde a primeira cena, que se passa literalmente de trás pra frente, com cápsulas voltando ao revólver, sangue subindo, funcionando como um aperitivo do resto do filme.



Claro que o filme não é só o roteiro. Os atores estão ótimos: Guy Pearce (então já consagrado por Priscilla, a Rainha do Deserto e Los Angeles - Cidade Proibida) empresta a credibilidade necessária ao protagonista, e a dupla de Matrix (Carrie-Anne Moss e Joe Pantoliano) mostra uma ambiguidade em seus papéis que apenas ajuda a construir a história em suas nuances e indefinições. A fotografia, alternando cores com preto-e-branco (nos flashbacks), e flertando com o noir, também é um destaque. Obviamente, como toda história mirabolante, tem seus furos (como ele sempre sabe que tem a doença?), mas nada que tire o brilho do filme, uma obra-prima, um clássico moderno. Quem nunca viu esse filme tem que vê-lo agora. Sério. É um dos filmes que eu mais gosto de discutir, estejam à vontade nos comentários. Só não deixe de vê-lo.

Nota: 9,5 (6o. colocado na minha lista de filmes favoritos)

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