sábado, 10 de novembro de 2012

A Onda (Die Welle, 2008)



Os alemães têm, como era de se esperar, uma relação conturbada com seu passado. Já falei sobre isso, inclusive, no texto sobre Adeus Lênin. Ao mesmo tempo em que têm certo medo do que eventuais manifestações de nacionalismo podem vir a causar, não gostam de se sentir responsáveis por algo que seus antepassados fizeram há mais de 70 anos. O início desse filme retrata bem isso: em uma semana de "projetos especiais" em uma escola alemã de ensino médio, Rainer, um professor novato e meio revolucionário (um dos clichês de filmes mais repetidos, por sinal), apesar de querer dar aula sobre anarquia, acaba sendo designado como professor de autocracia/ditadura. Por gostarem do professor, vários alunos se inscrevem no curso, mas logo se vê o desânimo quando um aluno diz algo como "vamos falar de nazismo de novo? não acredito que ainda achem que, depois de tudo o que aconteceu e de tanto que nos falam isso, essa geração ainda tem alguma chance de repetir a história", e todos meio que concordam.

A partir do ponto de vista dos alunos, Rainer propõe então algo diferente: que ele e seus alunos formem uma sociedade fechada, que define suas próprias regras, que todos devem seguir, e iniciando-se como uma democracia, já que os próprios alunos elegem seu líder no primeiro momento (o próprio Rainer). Aos poucos, o sentimento de unidade vai se formando entre eles, que decidem utilizar uniformes, ter um nome especial (A Onda), e criam logos, saudações e todo tipo de ferramenta de unidade (que, obviamente, acabam virando ferramentas de segregação). Inicialmente, alguns alunos que sempre se sentiram excluídos ficam mais felizes por finalmente se sentir parte de algo, embora poucos outros comecem a perceber os perigos dessa união. Claro, não é preciso ser adivinho para saber que o experimento dá errado.


Alguns pontos estranhos no roteiro acabam tornando o filme algo mais alegórico do que documental. Não fica muito claro qual era a verdadeira intenção de Rainer ao propor o experimento (eu não consigo ver um desfecho "pacífico" para ele), nem porque ele demora tanto para encerrá-lo com as evidências de que algo está errado. Parece que algumas coisas acontecem só para que a história chegue onde precisa chegar. Não chega a ser um defeito que incomode, já que o principal é a mensagem por trás: as pessoas são naturalmente atraídas por fazerem parte de um grupo, e tendem a hostilizar e, se possível, controlar os que não são parte dele. Não importa o quanto saibam que não deveriam, ou as consequências disso.

A alegoria acaba sendo o ponto forte do filme. Por mais que algumas situações soem forçadas, dá pra acreditar sinceramente que, em situações similares, pessoas (e até você mesmo, por que não?) teriam essas reações. Já disse em algum momento que gosto muito de filmes que examinam as pessoas e suas reações, como se fossem estudos antropológicos. Neste filme, por mais construídas que sejam as situações, esse aspecto de estudo da mente coletiva é muito interessante, especialmente quando se chega a extremos. E, claro, o filme mostra que, por mais que tenham estudado a vida toda os efeitos de um regime autoritário, os alunos "caem na armadilha" sem pensar muito.

Concorde ou não com a mensagem, sempre é interessante ver filmes que fazem pensar, especialmente quando analisam e propõem discussões de como somos enquanto pessoas. Mesmo que a conclusão não seja a melhor possível...

Nota: 7,5

2 comentários:

  1. Você sabia que essa "experiência" aconteceu de verdade? Eu achei esse filme sensacional!
    http://en.wikipedia.org/wiki/The_Third_Wave (ok, wikipedia não é das melhores fontes, mas de lá da pra caçar mais coisas na rede)

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    1. É, eu sei, esqueci de comentar isso. Foi na Califórnia, se não me engano.

      Aliás, aquele outro Das Experiment (que conta a experiência alemã, onde pegaram pessoas comuns e separaram em prisioneiros e carcereiros) também foi de verdade e também virou filme. Esse ainda preciso ver.

      Abs!

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