Como eu já disse antes, o nazismo e a II Guerra Mundial estão entre os assuntos mais retratados pelo cinema. Não à toa, já que foi uma das épocas que definiram o século XX. Um pouco mais raro é o cinema alemão (e os alemães em geral) abordar o assunto, já que, apesar dos quase 70 anos que se passaram, o assunto ainda é de certo modo tabu na sociedade alemã. Muitos ainda se perguntam como foi possível que a sociedade inteira de seus antepassados pudesse fazer parte (ou pelo menos compactuar) de um dos maiores genocídios da história.
Só por isso esse A Queda já seria algo a se destacar. Com uma visão crua e direta focada nos últimos dias de vida de Hitler, já cercado em seu bunker de Berlim, e aceitando a realidade de uma guerra perdida, o filme traz justamente essas questões: "O que fez com que as pessoas acreditassem tão cegamente nesse homem e nessa causa? Até que ponto tinham ou não opção de se opor?"
Mas o filme, claro, tem outras qualidades. Baseado em um livro escrito por Traudl Junge, sua secretária particular, o filme se passa em menos de uma semana, entre o aniversário de 56 anos do "Führer" e o final da guerra na Alemanha, com seu suicídio e a rendição do país. E a caracterização desse período é assustadora de tão boa. O clima claustrofóbico, a tensão da derrota e da invasão dos russos, o dilema entre o medo de morrer e a devoção a Hitler, tudo contribui muito para um filme extremamente realista e muito bom. Mas talvez o principal fator de sucesso do filme seja a atuação de Bruno Ganz como Hitler. É assustador o quanto ele incorpora o papel, tendo estudado discursos e conversas privadas do líder alemão, além de comportamento de pacientes de Parkinson, e juntado isso tudo de maneira extremamente competente. A principal cena do filme, mostrando a reação dele ao descobrir que não tem como evitar a tomada de Berlim, colocando a culpa em seus generais, ficou tão famosa que já foi "legendada" com todos os assuntos possíveis, de mudança de time de jogador de futebol americano a discussões sobre Harry Potter. Um primor:
Mas um ponto que me agrada demais no filme é a "humanização" da figura de Hitler. A mente das pessoas trabalha melhor com conceitos extremos: uma pessoa é bonita ou feia, honesta ou corrupta, boa ou má (e até por isso, por exemplo, novelas são tão calcadas nessa dicotomia). Para nós, é de certo modo reconfortante achar que podemos identificar o mal absoluto, ou seja, que alguém capaz de fazer as maldades que Hitler fez não seja considerado humano, assim como nós. Enxergá-lo como uma pessoa "comum", com amores, temores, emoções, virtudes (por que não?) e falhas quebra esse "conforto", mostrando que heróis e vilões também são como nós, são feitos do mesmo material, e mostram que nós também temos nossas virtudes e defeitos. E isso é fascinante.
Nota: 8,2 (48o. na minha lista de filmes favoritos)
PS: Fazia tempo que eu queria falar desse filme, por ser um filmaço. No entanto, os acontecimentos de ontem acabaram me incentivando a antecipar essa resenha. Fica aqui a "homenagem" ao time do Palmeiras, não apenas pelo nome do filme (A Queda), como também na cena seguinte (o pessoal é rápido...)
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