terça-feira, 13 de novembro de 2012

Juno (2007)


Recentemente, é difícil um ano em que um filme considerado "independente" não faça um sucesso considerável. Filmes como Pequena Miss Sunshine, Juno, Guerra ao Terror e O Artista foram bem sucedidos comercialmente, e mostram que nem sempre a estrutura dos estúdios é totalmente necessária para que um filme fique conhecido (embora mesmo filmes independentes acabem contando com estruturas de divulgação dos estúdios), gerando filmes diferentes, com histórias que não ficam amarradas à aprovação de produtores profissionais, garantindo em tese uma maior liberdade de temas e abordagens.

Juno foi um dos primeiros a marcar essa tendência, contando a história de uma adolescente que fica grávida do melhor amigo de maneira inesperada, e tenta seguir sua vida, muitas vezes sendo a mais madura entre todos que a cercam. É um filme simpático, com uma personagem principal cativante (a ótima Ellen Page, que descobriu uma reserva de mercado de papeis de adolescente precoce em filmes onde a atriz precisa ser maior de idade), e muito pontuado justamente por esse estilo "indie", no tema, na abordagem, e até na trilha sonora.

Mas, na minha opinião, não é um filme tão bom. A impressão que dá é que diretor/roteirista se preocuparam tanto em serem descolados em cada cena, cada diálogo, cada música, que perderam a mão na dose. Não é dizer que filme de gravidez na adolescência precisa necessariamente ser um dramalhão, onde a garota sente que perdeu sua vida e é castigada pela imprudência, coisas do tipo. Mas também fica irreal se ela não está nem aí (ainda mais porque a personagem não é construída como alguém que "não está nem aí"), e está mais preocupada em novas bandas independentes ou em dar respostas espertinhas o suficiente para parecer uma personagem de Gilmore Girls.


O filme parece se passar em uma versão fofinha, otimista e descolada do universo real. Mesmo as cenas de conflitos, problemas e dificuldades parecem passar sem grandes traumas, como se aquilo de fato não tivesse acontecido, ou como se não fizessem diferença na história que o filme quer contar. Primeiro ela não quer ter o filho, depois quer, aí acha um casal adotivo, gosta deles, se envolve com o futuro pai adotivo sem nem perceber, indiretamente causa a separação do casal, entra em crise porque quer uma família para o filho, depois sai da crise, fica feliz, conversa com a amiga no ultra-hypado telefone de hamburger, dispensa o amigo, gosta do amigo, canta com o amigo... e nada disso parece fazer muito efeito na história nem na personagem, que meio que termina o filme como começou. Ah, mas as 18 citações ultra-indies por minuto estão lá, e é isso que importa. Para que se preocupar com o futuro se podemos falar de bandas semi-desconhecidas?



Outra coisa que não ajuda é a atuação de Michael Cera, que faz o papel do amigo de Juno. Com ele, a nova geração de atores que só fazem o papel de si mesmos continua bem representada (para orgulho dos patronos Nicholas Cage e Jack Nicholson). Apesar de ter melhorado um pouco em Scott Pilgrim Contra o Mundo (pelo menos a ponto de não estragar o filme), e sabendo que o papel exigia um pouco isso dele, o ator está muito apático, muito abaixo da interpretação de Ellen Page, ela sim uma ótima atriz, não apenas aqui como em filmes como MeninaMá.com e A Origem. Mas não apenas Michael Cera como todo o elenco de apoio parecem estar meio no automático, sem muita paixão nos papeis. E isso, para mim, tirou qualquer envolvimento que eu pudesse ter com a história.

Mas que profundidade dramática tem esse rapaz!

A iniciativa de filmes independentes para fugir das restrições dos grandes investidores para mim é ótima. Mas nem todo filme "mainstream" é necessariamente ruim, e nem todo "indie" é necessariamente ótimo. E nem todo mundo que fala de filmes é necessariamente coerente e inteligente :-)

Ainda bem. E viva a diversidade.

Nota: 6,0

Um comentário:

  1. Não vi Juno, mas seu texto me fez lembrar um ótimo filme nacional que vi recentemente: "Os 3". Já viu? É muito bom, curto e original (fora a atuação um pouco pobre dos trio principal). (Dei pra trollar seu blog hoje...)

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