terça-feira, 14 de agosto de 2012

Lua de Fel (Bitter Moon, 1992)


Há atores que se transformam quase em "gêneros cinematográficos". São aqueles cuja presença em um filme em geral já diz tudo o que você precisava saber sobre o filme: o tipo, gênero, história, tom, e algumas vezes até o final da história podem muitas vezes ser inferidos apenas olhando quem participa dele. Hugh Grant é um exemplo (até já falei sobre isso aqui), Meg Ryan é outro (e por isso achei Em Carne Viva tão surpreendente), além, é claro, de brucutus como Stallone e Schwarzenegger (tirando desvios como Um Tira no Jardim de Infância).

Mas não é Hugh Grant o caso em discussão aqui (ele está nesse filme, mas apesar de seu papel ser meio que o de sempre, a história é bem diferente das quais estamos acostumados a vê-lo). Lua de Fel se encaixa em um tipo de filme geralmente tenso, abusado, chocante, com temática sexual, livre de amarras de pudor e convenções sociais, e portanto, não feito para todos os gostos. Esse tipo de filme fatalmente terá um de 2 atores (ótimos, por sinal), que para mim, simbolizam exatamente do que falo: Jeremy Irons (Lolita, Madame Butterfly, Gêmeos: Mórbida Semelhança e outros), para mim um ótimo ator, em geral subestimado justamente pelo tipo de filme que faz, e Peter Coyote, que é um dos atores principais deste Lua de Fel (e que também estrelou A Grande Arte, dirigido por Walter Salles - daí dá pra ter uma ideia).

No filme, Hugh Grant e Kristin Scott Thomas (Nigel e Fiona, mais britânicos, impossível) são um casal em lua de mel em um cruzeiro indo para Istambul, que conhecem um escritor americano paralítico, Oscar (Coyote) e sua namorada francesa Mimi (Emmanuelle Seigner, linda). Inicialmente se sentem ofendidos pelo jeito rude e grosseiro do escritor, mas, um pouco por se sentir atraído por sua namorada, o personagem de Hugh aceita sua proposta de conhecer a história de suas vidas, como se conheceram e chegaram ali.


É a partir daí que a história fica mais densa, e o desejo de Nigel por Mimi vai se acentuando conforme as sessões com Oscar vão aprofundando mais em sua história chocante. Não vou entrar aqui nos detalhes da história, que obviamente é bem mais interessante assistida, mas queria falar um pouco sobre o quanto gostamos ou odiamos nos sentir chocados, ou seja, até que ponto nossa moral limita o que queremos ver (não entrando no mérito de o que nos dispomos a realizar, já que esse é um blog de cinema, a arte "voyeur" por definição).

Eu, pessoalmente, vejo uma diferença grande entre o "choque gratuito" e aquele que se insere em um contexto. Ou seja, filmes e pessoas que apresentam algo para gratuitamente chocar ou escandalizar alguém perdem muitos pontos comigo (um exemplo besta é a Lady Gaga aparecendo em uma festa dentro de um ovo gigante - convenhamos, isso é ridículo, e pessoas só fazem isso porque há desocupados que repercutem). Para mim, o exemplo clássico cinematográfico é Almodóvar (pausa para desviar das pedradas): reconheço méritos em seus filmes, inclusive tendo gostado muito de A Pele que Habito, o mais recente, mas acho que ele perde a mão muito facilmente. Exagera mesmo. Suas comédias são bastante honestas, especialmente as do começo da carreira, mas o tipo de drama que ele geralmente faz traz forçadas de barra desnecessárias, estilo novela mexicana mesmo, sem uma contraparte na história, ou seja, ele poderia contar as mesmas histórias de maneira menos sensacionalista. Ou sou eu que tenho, afinal, um baixo limite para me sentir ofendido, como claramente aconteceu em Má Educação.

Voltando ao filme em questão, claro que mentes mais sensíveis podem se escandalizar, mas o diretor Roman Polanski, na minha opinião, insere os momentos mais agressivos da história em um contexto bastante interessante. Claro que o filme não é perfeito, e em alguns momentos ele perde a mão um pouco, mas o filme deixa um saldo positivo.

Acho que, como falei antes, tudo se resume ao gosto pessoal de cada um. Como eu disse, o filme claramente não é para todos, mas aqueles que se dispuserem a abdicar por 2 horas de alguns preconceitos poderão gostar bastante. Além disso, como já disse em vários outros posts, acho que o cinema fica mais interessante quando nos leva, de maneira consistente, a experiências que não tivemos (ou não teremos) em nossas vidas, seja viajando entre galáxias, visitando a Idade Média, ou, como é o caso aqui, entrando na mente, relacionamentos e preferências sexuais de outras pessoas. Em resumo, eu gostei do filme e recomendo. Nem que seja para fazer como Hugh Grant no filme, e se sujeitar a uma história pesada só para ver a garota bonita... :-)

Nota: 6,0

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