terça-feira, 22 de setembro de 2015

Lucy (2014)


A ficção científica. Aquele gênero onde tudo é possível: naves intergalácticas, viagens no tempo, pessoas voando, mundos desconhecidos. Na ficção é onde os autores se livram das amarras da nossa realidade e nos transportam a universos onde nossas regras não necessariamente valem, onde qualquer ideia pode ser verdade e, como não há regras, tudo pode acontecer.

Bem, sim e não.

Por mais que você crie um universo novo, com novas leis, novos seres, novas possibilidades, esse universo ainda deve ser regido por essas mesmas leis. Se seu personagem viaja mais rápido que a luz, ótimo, mas as leis desse universo, e principalmente, sua coerência interna ainda devem estar lá. As pessoas, coisas e ambiente ainda devem se comportar de forma coerente, que faça o espectador acreditar que aquilo poderia acontecer naquelas condições. Claro que existe o conceito de "suspensão da descrença" (que o Nerd Pai explica de maneira muito simples aqui), e esse conceito é muito importante para que o espectador se divirta sem ficar reparando em cada detalhe, mas mesmo ele tem limites. Não dá pra fazer qualquer coisa e dar a desculpa de "ah, é ficção".


Você já deve estar imaginando porque eu estou falando isso. Lucy é exatamente tudo isso que critiquei. Nem me refiro especialmente à premissa "o ser humano usa 10% da capacidade cerebral. Imagina se usasse 100%", que hoje sabemos falsa, mas que de fato é só uma desculpa para dar superpoderes à protagonista (e já vimos desculpas muito piores que essa). O problema é o que o Luc Besson faz DEPOIS disso. A história é confusa, Lucy cria (e esquece) poderes e conhecimento de acordo com a necessidade momentânea da história, personagens aparecem sem que se entenda o porquê (inclusive um deles, em um surto de honestidade, pergunta a Lucy exatamente isso, "O que estou fazendo aqui? Pra que você precisa de mim?"). Claro que a resposta dela também não faz o menor sentido. Mesmo a motivação da história, que é ela adquirindo super-poderes ao ingerir acidentalmente uma nova droga enquanto a contrabandeia, não faz sentido: ninguém nunca tinha experimentado a tal droga antes?

E assim a história vai, com acontecimentos esquisitos se sucedendo, claramente direcionados mais pelo visual que pelo roteiro, o que transforma o filme em uma pirotecnia confusa. Scarlett Johansson exagera um pouco no ar blasé da personagem, ou talvez esteja apenas apática frente a tanta bizarrice. Muitas maluquices depois, ela derrota seus inimigos (que são motivados sabe-se lá pelo quê) e, na cereja do péssimo bolo, vira (sim, isso mesmo:) um pen-drive.

Adoro ficção científica. Quanto mais, melhor, em geral. Mas filmes como esse prestam um baita desserviço ao gênero. Só quis falar dele por conta dessa visão "pode tudo" que algumas pessoas ainda têm. Fuja, e vá assistir filmes bons como Interestelar e Expresso do Amanhã (dois filmes de que ainda falarei aqui).

Estes sim demandam mais do que 10% do seu cérebro.

Nota: 2,0 (está entre os filmes que menos gostei)

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