Simples assim. Comentários sobre filmes que já vi, bons ou ruins, recentes ou antigos. Um jeito de falar sobre cinema sem necessariamente ter alguém pra me ouvir.
sexta-feira, 31 de julho de 2015
Beleza Americana (American Beauty, 1999)
Vencedor do Oscar em 1999, Beleza Americana, de Sam Mendes, conta a história de Lester Burnham (Kevin Spacey), pai de família acomodado, que se considera um fracasso, tem um casamento falido com Carolyn (Annette Bening), não consegue se comunicar com a filha adolescente (Thora Birch), e de repente se vê apaixonado pela sua amiga de colégio Angela (Mena Suvari, linda). A partir desse fato, começa a contar sua vida e a vida daqueles em seu redor, a partir de um ponto futuro no tempo, onde ele já morreu.
O conjunto de "tipos" que compõem o subúrbio retratado no filme é um de seus pontos fortes: temos o pai de família fracassado e sem perspectivas, a mãe frustrada e viciada em auto-ajuda, a filha problemática e sua amiga popular, o vizinho esquisito, com seu pai militar rígido e a mãe ausente. E todos eles bastante realistas, ou pelo menos críveis, assim como a história que Lester conta a partir do dia que conheceu a amiga da filha até o dia de sua morte. O roteiro e as atuações são bastante elogiáveis (especialmente Kevin Spacey, que havia estourado há poucos anos com Seven e Os Suspeitos, e Chris Cooper, no difícil papel do Coronel Fitts), o visual e fotografia (especialmente nas cenas entre Lester e Angela, geralmente na imaginação dele), compondo um excelente filme, que ganhou prêmios e fez bastante sucesso na época do lançamento.
Mas provavelmente eu não estaria aqui escrevendo sobre o filme se não o tivesse visto de novo por esses dias. Além de comprovar que o filme continua atual, e foi realmente muito bem feito, algo me chamou atenção quando comparei as duas vezes que o vi, com 16 anos de diferença: o filme fala diferente para pessoas diferentes, e para fases diferentes da mesma pessoa.
Não é grande novidade que a experiência de quem assiste um filme varia de acordo com a sua vivência. Pros dois lados: há filmes que se não forem assistidos enquanto jovem, não vão ter grande apelo quando mais velho (Curtindo a Vida Adoidado, por exemplo). Mas me surpreendeu o quanto isso afeta a visão que tive de Beleza Americana aos 22 e agora aos 38 anos.
A primeira coisa: aos 22, me parecia que Lester Burnham era quase aposentado, que olhava do fim da vida e via que a tinha desperdiçado. Qual não foi minha surpresa quando logo na introdução ele diz que tem 42 anos. É pouco mais que a minha idade. O que me pareceu muito distante lá atrás de repente é algo muito próximo hoje. E isso me fez "sentir" muito mais a dor que ele sente, já que agora ele me parece "novo" e já desanimado da vida que passou anos construindo.
Outro ponto que passei a entender melhor: o "vilão" do filme, sob o ponto de vista de Lester, não é a idade, a velhice. É o conformismo, a desesperança. É estar longe do fim da estrada mas já achar que tomou o caminho errado e não se ver com forças para voltar e trocar de caminho. E não apenas ele: a seu modo, cada um dos personagens se vê em seu próprio caminho sem volta. Talvez seja essa a tal "Beleza Americana": você tem toda a condição de escolher de que maneira vai ficar insatisfeito.
É o principal mérito do filme também, conseguir mostrar sua mensagem de maneira diferente para cada um que o assiste. Ou, no meu caso, para cada fase da vida que assistiu. Não é pouco mérito.
Nota: 8,0
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