sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de tus Ojos, 2009)


Já que parte da culpa de eu ter sumido por tanto tempo do blog foi o fato de ter viajado para a Argentina, achei justo que o texto de retorno fosse sobre um filme argentino, até porque nunca falei sobre nenhum aqui. Não vi muitos; assim, escolhi o mais recente (e, na minha opinião, o melhor) dentre os que vi: O Segredo dos Seus Olhos (era esse ou Evita...).

Ricardo Darín (o Wagner Moura deles, porém mais onipresente, se é que isso é possível) faz o papel de um investigador veterano, aposentado, que resolve escrever um livro sobre um dos primeiros casos em que se envolveu, e que permanece não resolvido. Ao revisitar as pessoas envolvidas na investigação da época, pode acabar encontrando novos fatos relativos ao caso, e ter que enfrentar fantasmas de seu próprio passado que haviam sido deixados de lado.

O filme é excelente, algo passional (afinal, é um filme latino), mas sem os exageros do cinema espanhol. Mistura bem os dias de hoje com as passagens em flashback, e a investigação do caso com a própria vida pessoal do protagonista, que ao mesmo tempo que investiga o assassinato, envolve-se com sua chefe casada (Soledad Villamil). Mas o que impressiona mais é a maturidade do roteiro, além do balanço perfeito entre uma história um tanto universal com aspectos da vida na Argentina.



Aqui cabe uma comparação: por serem vizinhos, e por terem passado um pouco pelas mesmas situações ao longo de sua história (e até pela rivalidade, por que não?), Brasil e Argentina tendem a ser comparados em quase tudo, incluindo futebol, política, desenvolvimento... pois bem, quando confrontados em termos de produção cinematográfica, ao menos nos últimos anos, não é novidade para ninguém que estamos muito atrás. Ultimamente, no Brasil, existem basicamente 3 tipos de filmes: aqueles estilo "Globo" (Se Eu Fosse Você, Muita Calma Nessa Hora), que são basicamente versões mais longas de programas ruins; os ultra-mega-alternativos-cabeça (Paraísos Artificiais, Apenas o Fim), cheios de maneirismos de escola de cinema e com pouca "substância"; e os clássicos favela-movies, que até vieram de bons exemplares (Central do Brasil, Cidade de Deus) mas que hoje mais parecem uma competição de quem mostra mais pobreza, como se o cinema tivesse uma dívida a pagar com o povo brasileiro, mostrando seus sofrimentos.

Voltando ao assunto, essa para mim é a grande vantagem do cinema argentino frente ao brasileiro. Seus filmes, como eu disse antes, são mais universais (só brasileiros - e nem todos - entendem as piadas de Cilada.com, por exemplo), mas sem esquecer o toque local. Além disso, tratam de temas mais variados, como Nove Rainhas (comédia sobre uma quadrilha de ladrões), O Filho da Noiva (drama sobre o envelhecimento), e tantos outros. Ou seja, foge do "veja os problemas de nosso país, precisamos fazer alguma coisa" que tanto vemos por aqui.

Faltou dizer que o filme é ótimo, bem desenvolvido, com uma história que prende a atenção (e um "plot-twist" no final daqueles de deixar a boca aberta), e que dosa bem o crime investigado, os dramas pessoais, e a situação no país durante a ditadura, sem se tornar monotemático ou desinteressante. As atuações são ótimas, assim como o roteiro e a fotografia. Um de vários filmes argentinos que vale a pena ver.


Nota: 8,4 (39o na minha lista de filmes favoritos)

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