50 anos do primeiro filme do 007 (007 Contra o Satânico Dr. No, 1962), 23o. filme da franquia e terceiro em que o agente James Bond é interpretado por Daniel Craig. A história acho que todo mundo conhece, e deve ser meio que a mesma sinopse de uns outros 10 filmes do 007: após falhar em uma missão, quando o MI-6 está sob ataques que parecem direcionados pessoalmente à sua chefe M, James Bond busca investigar e resolver os ataques, mesmo sendo considerado "velho" por boa parte daqueles que o cercam.
Na minha opinião, um filme desses tem que ser avaliado de 2 maneiras: como filme, e como filme do 007. É uma "franquia" tão antiga, com características tão peculiares, que parte importante de saber se gostamos ou não do filme vem do "encaixe" que ele tem com a mitologia da série. Aviso também que vi o filme no avião, naquelas telinhas pequenas, parte dublado e parte em inglês sem legendas, e com um passageiro ao lado que ocupava pelo menos 20% do meu assento. Ou seja, é uma resenha mal-humorada :-)
O post é meu, eu ponho foto do Sean Connery aqui, oras. |
É, eu quis colocar essa também. |
Já olhando como filme de James Bond, para mim a discussão é mais profunda: existe espaço hoje em dia para um filme "clássico" do 007? Vilões megalomaníacos que contam seus planos para um 007 amarrado à beira da morte já foram ridicularizados até onde podiam por décadas de filmes, especialmente na série Austin Powers. Roger Moore fugindo no estilo Pitfall ou Sean Connery usando uma cadeira-foguete seriam alvo de riso no cinema de hoje. Mas, principalmente, a figura do "agente secreto", o cara que sozinho estraga o plano dos vilões, essa é que parece cada vez mais irreal (inclusive o próprio filme toca bastante no assunto).
Neste filme, acho que Sam Mendes atingiu um meio-termo insatisfatório. Traz de volta alguns pontos clássicos dos filmes antigos, como Q, Moneypenny, e até o famoso Aston Martin. Mas tudo soa meio forçado. A personagem de Berenice Marlohe aparece e sai da história sem que se entenda como Bond chegou a ela ou quais eram suas motivações, apenas para ser a garota que ele pega durante o filme. Aliás, esse outro traço tradicional do 007, de sempre ter as mulheres aos seus pés, e trocar uma por outra sem constrangimento, já tinha sofrido um duro golpe na época da explosão da AIDS, e com os avanços na luta por igualdade feminina.
Além disso, o filme parece trocar as situações bizarras e esdrúxulas (mas encaixadas na história) dos filmes antigos por reviravoltas sem nenhum sentido, e soluções fáceis de roteiro disfarçadas de exóticas (o que é a cena dos dragões de Komodo?). É tanta coisa que acontece por acaso ou sem explicação que no meio do filme você já deixou de tentar entender e só vai seguindo...
(parágrafo com "spoilers" sobre o filme. Se você não viu, pule este parágrafo)
E o final? Bond resolve acabar com a briga e levar M para seu castelo, contrariando todas as ordens, inclusive dela mesma. Mallory descobre, acha que ele está criando uma pista falsa e diz que é uma ótima ideia, sem saber o que realmente se passa. Bond monta um arsenal de guerra para capturar ou matar Silva e salvar M. Após a invasão, depois de vários tiros e explosões, Bond mata Silva mas M morre em decorrência de ferimentos. Ou seja, Bond conseguiu garantir que o plano de Silva funcionasse! E ainda é bem recebido e ganha seu lugar de volta no MI-6, sob a liderança do mesmo Mallory que havia dito no meio do filme que ele era ultrapassado e um risco a quem estava em volta! Dá pra entender?
(fim do parágrafo de spoilers. Todos podem voltar a ler a partir daqui)
Minha resposta é: não, James Bond não pertence mais a essa época. Já abandonaram a classe do personagem (Daniel Craig, me desculpem, não está à altura), o humor fino e nonsense, o exagero "kitsch", e tudo que fazia do herói algo diferente. Os filmes continuam, claro, e vão continuar mais, já que vêm batendo recordes de bilheteria (Cassino Royale me pareceu até uma boa ideia de mostrar a origem de 007, mas não vi Quantum of Solace de tanta crítica ruim que li, e esse Skyfall, que vi por insistência de um amigo, me decepcionou profundamente), mas é uma série de ação e espionagem qualquer que faz sucesso. Não é mais 007.
Nota: 4,0
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