sexta-feira, 14 de junho de 2013

Skyfall (2012)


50 anos do primeiro filme do 007 (007 Contra o Satânico Dr. No, 1962), 23o. filme da franquia e terceiro em que o agente James Bond é interpretado por Daniel Craig. A história acho que todo mundo conhece, e deve ser meio que a mesma sinopse de uns outros 10 filmes do 007: após falhar em uma missão, quando o MI-6 está sob ataques que parecem direcionados pessoalmente à sua chefe M, James Bond busca investigar e resolver os ataques, mesmo sendo considerado "velho" por boa parte daqueles que o cercam.

Na minha opinião, um filme desses tem que ser avaliado de 2 maneiras: como filme, e como filme do 007. É uma "franquia" tão antiga, com características tão peculiares, que parte importante de saber se gostamos ou não do filme vem do "encaixe" que ele tem com a mitologia da série. Aviso também que vi o filme no avião, naquelas telinhas pequenas, parte dublado e parte em inglês sem legendas, e com um passageiro ao lado que ocupava pelo menos 20% do meu assento. Ou seja, é uma resenha mal-humorada :-)

O post é meu, eu ponho foto do Sean Connery aqui, oras.
Bom, seguindo com a lógica, vamos analisar o filme em si primeiro. Uma das novidades foi a colocação de um diretor famoso para dirigir o filme: Sam Mendes, de Beleza Americana. Isso tem vantagens e desvantagens, já que ele traz a perspectiva de um filme melhor, mas quer trazer consigo sua "assinatura cinematográfica". Não, ele não coloca o 007 em uma banheira de pétalas de rosa, mas um dos temas mais presentes em Beleza Americana, que é o conflito entre o "novo" e o "velho" - que já é comum nos filmes de Bond - está presente o tempo todo.

É, eu quis colocar essa também.
Mas vamos lá: o filme para mim é muito confuso, especialmente na primeira metade. Coisas acontecem sem que se entenda exatamente como, ele segue pistas que você não entende direito como conseguiu, e personagens passam sem que você saiba quais suas motivações ou mesmo porque estavam lá. Claro que as imagens, a fotografia, e especialmente a trilha sonora do filme são fantásticas (depois de muitos anos, finalmente um filme de James Bond com uma música de James Bond), mas para mim foi muita pirotecnia para pouco conteúdo. Mesmo pensando como um filme moderno de ação com um personagem qualquer, acho que falta não história, mas sim credibilidade nos acontecimentos e nas reações dos personagens. Daniel Craig entrega sua atuação padrão, e Javier Bardem esbarra um pouco no histrionismo, mas no final entrega bem como o vilão Silva, já que seu personagem é também um dos mais bem explorados e caracterizados do filme.


Já olhando como filme de James Bond, para mim a discussão é mais profunda: existe espaço hoje em dia para um filme "clássico" do 007? Vilões megalomaníacos que contam seus planos para um 007 amarrado à beira da morte já foram ridicularizados até onde podiam por décadas de filmes, especialmente na série Austin Powers. Roger Moore fugindo no estilo Pitfall ou Sean Connery usando uma cadeira-foguete seriam alvo de riso no cinema de hoje. Mas, principalmente, a figura do "agente secreto", o cara que sozinho estraga o plano dos vilões, essa é que parece cada vez mais irreal (inclusive o próprio filme toca bastante no assunto).



Neste filme, acho que Sam Mendes atingiu um meio-termo insatisfatório. Traz de volta alguns pontos clássicos dos filmes antigos, como Q, Moneypenny, e até o famoso Aston Martin. Mas tudo soa meio forçado. A personagem de Berenice Marlohe aparece e sai da história sem que se entenda como Bond chegou a ela ou quais eram suas motivações, apenas para ser a garota que ele pega durante o filme. Aliás, esse outro traço tradicional do 007, de sempre ter as mulheres aos seus pés, e trocar uma por outra sem constrangimento, já tinha sofrido um duro golpe na época da explosão da AIDS, e com os avanços na luta por igualdade feminina.



Além disso, o filme parece trocar as situações bizarras e esdrúxulas (mas encaixadas na história) dos filmes antigos por reviravoltas sem nenhum sentido, e soluções fáceis de roteiro disfarçadas de exóticas (o que é a cena dos dragões de Komodo?). É tanta coisa que acontece por acaso ou sem explicação que no meio do filme você já deixou de tentar entender e só vai seguindo...

(parágrafo com "spoilers" sobre o filme. Se você não viu, pule este parágrafo)

E o final? Bond resolve acabar com a briga e levar M para seu castelo, contrariando todas as ordens, inclusive dela mesma. Mallory descobre, acha que ele está criando uma pista falsa e diz que é uma ótima ideia, sem saber o que realmente se passa. Bond monta um arsenal de guerra para capturar ou matar Silva e salvar M. Após a invasão, depois de vários tiros e explosões, Bond mata Silva mas M morre em decorrência de ferimentos. Ou seja, Bond conseguiu garantir que o plano de Silva funcionasse! E ainda é bem recebido e ganha seu lugar de volta no MI-6, sob a liderança do mesmo Mallory que havia dito no meio do filme que ele era ultrapassado e um risco a quem estava em volta! Dá pra entender?

(fim do parágrafo de spoilers. Todos podem voltar a ler a partir daqui)

Minha resposta é: não, James Bond não pertence mais a essa época. Já abandonaram a classe do personagem (Daniel Craig, me desculpem, não está à altura), o humor fino e nonsense, o exagero "kitsch", e tudo que fazia do herói algo diferente. Os filmes continuam, claro, e vão continuar mais, já que vêm batendo recordes de bilheteria (Cassino Royale me pareceu até uma boa ideia de mostrar a origem de 007, mas não vi Quantum of Solace de tanta crítica ruim que li, e esse Skyfall, que vi por insistência de um amigo, me decepcionou profundamente), mas é uma série de ação e espionagem qualquer que faz sucesso. Não é mais 007.

Nota: 4,0

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