sábado, 9 de fevereiro de 2013

Apocalypse Now (1979)


"Ah, o horror, o horror!". Considerado um dos melhores filmes de guerra já realizados (para mim, o melhor), Apocalypse Now carrega no realismo ao retratar a Guerra do Vietnã, sua violência, condições sub-humanas, e a insanidade de seus quase 20 anos de duração. Conta a história do Capitão Willard (Martin Sheen), que parte em uma missão secreta para localizar e assassinar o Coronel Kurtz (Marlon Brando), que supostamente enlouqueceu e se transformou no chefe de um grupo de extermínio dentro do próprio Vietnã.

O (longo) filme se passa durante essa jornada de Willard rumo ao coração do Vietnã, em busca de Kurtz, mostrando diferentes aspectos da guerra: as missões suicidas e sem razão aparente, a extrema crueldade dos americanos contra os vietnamitas, e, em especial, a sensação de que ninguém sabe direito o que está fazendo ali.


Ao mesmo tempo acompanhamos também a lenta "queda na real" de Willard. Já no início do filme ele está perdido, sem perspectivas, sem ver sentido na vida nem no Vietnã nem em suas voltas para casa: "Quando eu estava aqui, queria estar lá; quando voltei para lá, tudo que eu podia pensar era em voltar para a selva". Durante sua missão, várias das facetas da guerra vão se mostrando, e sua opinião sobre toda a insanidade que vai presenciando também evolui ao longo do filme.

Tecnicamente, o filme é quase perfeito: a filmagem nas Filipinas empresta um ar de autenticidade às locações, a trilha sonora é impressionante (misturando The Doors, Beach Boys e Rolling Stones com a Cavalgada das Valquírias, de Wagner, em uma épica cena de bombardeio), e o roteiro tem o exato grau de confusão suficiente para envolver o espectador na história sem entregar o que vai acontecer em seguida. Minha única ressalva nesse ponto é a versão do diretor ("Redux"), com 49 minutos a mais, que foi a que assisti, e em vários momentos "quebra" o ritmo da história com "sub-plots" inteiros meio desnecessários, o que mostra que a edição original tinha o ponto exato de roteiro ideal.

O interessante é que tão famoso quanto o filme acabou sendo o período de filmagens, tão atribulado que o filme quase não saiu: Martin Sheen estava bêbado e se feriu durante a filmagens das cenas iniciais no hotel, e depois teve um ataque cardíaco, que foi encoberto por Coppola como se fosse estafa, para que o filme não fosse interrompido; Marlon Brando se apresentou 40kg mais gordo e sem ter lido nada do roteiro, querendo improvisar todas suas cenas; a filmagem, em vez de 5 meses, durou 16, e mais 2 anos foram necessários para editar o filme.


As atuações, claro, são um capítulo à parte. O elenco que Coppola teve à disposição para esse filme não apenas é estrelado como estava inspiradíssimo, apesar (ou por causa) das péssimas condições de filmagem. Lawrence Fishburne (o Morpheus de Matrix) mentiu a idade durante a audição e foi escalado para o filme com 14 anos; Harrison Ford faz uma pequena, mas marcante aparição como o militar que passa a missão a Willard; Robert Duvall (talvez um dos atores mais subestimados de sua geração), também em uma participação pequena, onde diz a famosa frase "Eu amo o cheiro de napalm pela manhã" e bombardeia uma praia apenas para que os soldados possam surfar; Dennis Hopper e seu jeito "hippie", vivendo um repórter-investigativo que é cooptado pelo "culto" a Kurtz; e, claro, Sheen e Brando, antagonistas com opiniões parecidas, e adversários do mesmo lado da guerra, mais uma das insanidades de um conflito já visto na época como sem propósito.


Tudo isso monta um dos filmes mais importantes da história do cinema, e um dos cartões de visita de uma geração de diretores (Coppola, Spielberg, Lucas, Scorsese) que, a partir dos anos 70, transformou o cinema, para o bem ou para o mal, e que, no caso de Coppola, teve a coragem de meter o dedo na ferida de uma guerra que havia acabado de terminar, e que ainda tinha implicações na Guerra Fria por mais de 10 anos. Caso ainda não tenha visto, e se estiver lendo esse texto assim que eu o publiquei (ou seja, está na internet em um sábado de carnaval), aproveite o tempo livre e dê um jeito de ver. É uma experiência edificante.

E ainda querem me convencer que Guerra ao Terror (que ganhou o Oscar de Melhor Filme em 2011) é um excelente filme de guerra. Please....

Nota: 8,5 (30o. na minha lista de filmes favoritos)


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