quinta-feira, 12 de julho de 2012

Casablanca (1942)



Depois de algum tempo sem publicar no blog, e por ter acabado de receber (e assistir) a edição especial em Blu-Ray do 70o. Aniversário do filme, resolvi enfim assumir a responsabilidade de falar sobre meu filme preferido de todos os tempos. Curioso que, durante um tempo, quando montei minha lista de filmes preferidos, De Volta para o Futuro 2 e O Império Contra-Ataca tenham sido candidatos fortes ao topo do ranking, mas no final acabei escolhendo Casablanca mesmo. Mais do que falar sobre o filme, cuja história acredito que a maioria conheça, acho justo tentar justificar o que, afinal, faz com que este seja o filme de que gosto mais.

Para quem eventualmente nunca viu (saia daqui e vá assistir, seu louco!), o filme, feito ainda durante a II Guerra, conta a história de Rick (Humphrey Bogart), um cínico americano que possui um bar em Casablanca, cidade no Marrocos que se tornou um destino procurado por aqueles que querem fugir do nazismo para os Estados Unidos. Um dia, entra em seu bar Ilsa (Ingrid Bergman), que foi o grande amor de sua vida, mas está casada com o líder da resistência Victor Laszlo (Paul Henried), e os dois procuram uma maneira de fugir, sendo perseguidos pelos nazistas. Neste momento, Rick se divide entre o amor por Ilsa e a possibilidade de ajudar Laszlo, e deve decidir o que fazer.



Parece uma história de amor comum, de um casal apaixonado lutando contra as dificuldades, e não deixa de ser. Mas, como sempre, o que importa mais é como a história é contada. Assim, acho que algumas coisas explicam porque esse filme, para mim, é considerado quase perfeito:

- A história: apesar de um tanto batida, a história consegue situar bem o caso entre os dois dentro do contexto da guerra e do local (impressionante como a guerra, além da cidade de Casablanca, são como personagens do filme). O uso das cartas de trânsito como "McGuffin" (segundo Hitchcock, o objeto que todos querem mas cuja natureza não é relevante) funciona muito bem, e a dicotomia entre o amor e o dever move a história de maneira muito fluida. O suspense de como vai acabar o filme é bastante eficiente e o final soa bastante natural, dentro das circunstâncias.

- Os personagens: é impressionante a construção dos personagens. Sem pressa, mas de maneira direta. Em poucas cenas, você já sabe quem é Rick, ao mesmo tempo em que aos poucos vai se surpreendendo com suas atitudes. A "mocinha" do filme só aparece com 25 minutos de filme, e rapidamente se entende o tipo de conflito que ela tem com o personagem principal, embora os detalhes vão sendo mostrados aos poucos. Os demais - o policial francês, o major da GESTAPO, o ladrão italiano (Ugarte, uma fantástica criação de Peter Lorre, de O Vampiro de Dusseldorf, que marca o filme apesar de poucos minutos em cena) - são não apenas bem construídos como maravilhosamente interpretados. A química entre Humphrey Bogart e Ingrid Bergman é perfeita, e os coadjuvantes contribuem demais para a história, tornando a experiência muito mais rica.

- a música: "As Time Goes By" deixou de ser apenas uma trilha sonora de filme, e também é um personagem em Casablanca. O curioso é que quase foi limada do filme: o responsável pela trilha sonora quis tirá-la do filme depois de pronto. Só não conseguiu porque certas cenas teriam que ser refilmadas, e Ingrid Bergman já havia cortado o cabelo para Por Quem os Sinos Dobram. Ironicamente, justamente o fato de estar tão entranhada no filme salvou a música de ser esquecida. E a música aparece em grande estilo: o reencontro entre os ex-amantes acontece justamente por causa de "As Time Goes By", com a icônica frase "Play it, Sam" (e não "Play it Again, Sam", como muita gente acha). Um dos momentos-chave do cinema.



- a fotografia: Casablanca, no Marrocos, é uma das cidades que quero conhecer no mundo por fatores aleatórios (junto com Vladivostok, por causa do War, e Greenwich, por causa do meridiano). Tudo, claro, por causa do filme. Obviamente não vou encontrar o "Rick's Café Americain" e muito menos Rick e Ilsa por lá, mas a ambientação do filme é perfeita, mostrando a cidade e os principais cenários de maneira muito bonita.



- o "imaginário coletivo": Algumas obras de arte, sejam filmes, pinturas, músicas, transcendem seu status de obra de arte e passam a fazer parte da cultura das pessoas. Nesse caso, atingem de fato o status de clássicos. Cenas como a Marselhesa no bar, os números musicais de Sam, os flashbacks de Rick e Ilsa, até a cena final no aeroporto (com fog no deserto, veja você!) entraram para o "inconsciente coletivo", mesmo 70 anos depois de feitas. As frases do filme ecoam até hoje. E afinal, não é qualquer filme que consegue ser homenageado pelo Pernalonga e pela Turma da Mônica...




- a "ousadia histórica": tá bom que o filme foi pensado como propaganda de guerra, em uma época de máximo domínio nazista na Europa e quando os Estados Unidos tinham acabado de entrar no conflito. Mas não deixa de ser corajoso e relevante falar sobre o sofrimento da II Guerra em 1942, enquanto ela ainda acontecia. E, se há alguma manifestação patriótica no filme, é francesa e não americana. Críticas como "Dê ao Major Strasser a melhor mesa!" / "Já fiz isso, ele é alemão e a tomaria de qualquer jeito" davam um tom incrivelmente atual ao filme, em uma época onde o cinema era regulado por várias "leis de conduta" (tanto que houve dúvidas se a censura liberaria mostrar Ilsa e Rick como amantes, dado que ela era casada com Lazslo). Quantos anos levou para a Guerra do Vietnã aparecer em um filme importante?

- o fator pessoal: acho que essa é a principal razão para que eu goste tanto de Casablanca. Devo ter visto o filme pela primeira vez com uns 15 anos, pegando por acaso em algum Corujão da vida. Gostava de filmes, mas sem nunca ter me interessado propriamente por cinema. E, sem internet, nem sabia quais eram os filmes clássicos, e me interessava menos ainda. Não me lembro, mas a própria decisão de parar para ver aquele filme preto e branco no meio da madrugada foi algo bastante fortuito (ou resultado de um tédio monstruoso). Pois bem, o que me lembro bem foi o quanto me surpreendi e adorei o filme. Não percebi na hora, mas foi o início de uma visão muito mais ampla e interessante sobre o cinema, e com certeza contribuiu muito para que eu gostasse tanto do assunto nos anos seguintes. Ajudou também a me fazer perceber que coisas boas poderiam vir fora da "zona de conforto" dos filmes que um adolescente de 15 anos procura assistir. Descobri e assisti muita coisa boa (e ruim) depois disso, mas o lugar especial esta lá, para um filme não apenas fantástico, mas que principalmente me fez ver tanta coisa depois...

É como se no final do filme, fosse o cinema em si me dizendo "I think this is the beginning of a beautiful friendship"...


 Nota: 9,9 (1o colocado na lista dos meus filmes favoritos)



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